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10 abril, 2012

Depressão: O Mal do Século.



Depressão: O Mal do Século
Osvaldo Shimoda
A maravilha da vida humana apenas existe e se perpetua porque os espermatozóides nunca perdem a fé. Mesmo os mais deficientes e frágeis, com milhões de concorrentes mais fortes, nunca desistem da busca e luta pelo sonhado óvulo. A própria vida é uma testemunha de fé.
- Roberto Crema.

Segundo a Organização Mundial da Saúde, em 2020 a depressão será a segunda moléstia que mais roubará tempo de vida útil da população. Perderá apenas para as doenças do coração.
A depressão se caracteriza como um transtorno do humor e pode ter início na infância, adolescência ou mesmo na vida adulta. Na verdade, a depressão pode vir após um acontecimento traumático, geralmente a perda de um ente querido (falecimento), o fim de um relacionamento amoroso, a perda do emprego, de poder aquisitivo, perda da beleza, do vigor físico e sexual, perda da saúde, etc.
Quando a depressão ocorre após algum acontecimento traumático, chamamos de reativa. Quando aparece sem um motivo aparente, leva o nome de endógena.

Os sintomas mais comuns da depressão são:
- Apetite diminuído ou aumentado;
- Insônia ou excesso de sono;
- Fadiga constante, irritabilidade;
- Baixa auto–estima (sentimento de desvalorização);
- Lentidão de raciocínio, memória, atenção (incapacidade de se concentrar);
- Desânimo, desinteresse pela vida, desesperança, sentimento de
inutilidade, sentimento de culpa;
- Crises de choro ou de lamentação;
- Agitação (Pode indicar um suicida em potencial).

Por outro lado, nem sempre a depressão se manifesta na forma desses sintomas acima mencionados. Há pessoas que reprimem fortemente a tristeza, mascarando-a, por exemplo, após a perda de uma pessoa querida (morte ou separação). É o que chamamos de Depressão Mascarada.

Na nossa cultura é muito comum os homens negarem que estão deprimidos. Muitos dizem que estão cansados ao invés de admitirem e dizerem: Estou triste!!!
Ficam agressivos ao invés de demonstrarem tristeza. Há um preconceito ainda muito grande dos homens demonstrarem tristeza, pois em sua maioria não se permitem chorar, principalmente em público. Existem 5 emoções básicas, autênticas, legítimas, inerentes ao ser humano; portanto, nascemos com elas: medo, tristeza, alegria, raiva e afeto.
Toda nossa educação emocional foi baseada no binômio: Permissão e Proibição. Ao homem foi permitido sentir e demonstrar alegria, raiva, mas recebeu a proibição para demonstrar medo, tristeza e afeto. Muitos homens quando sentem medo ficam agressivos e não admitem que estejam com medo.
Na verdade, a agressividade é uma forma de mascarar, disfarçar a sua insegurança e seus medos. Por outro lado, à mulher foi permitido, isto é, foi educada a sentir e expressar medo, tristeza, afeto, raiva e alegria – embora, há tempos atrás - ela não pudesse expressar livremente a raiva e a alegria. Ela tinha que ser recatada, bem comportada, feminina, meiga e não podia, portanto, ser agressiva e nem tampouco dar altas gargalhadas em público.
Mulher que agisse dessa forma era mal vista. Por conta desse processo educacional opressivo, em muitos casos, a depressão pode estar mascarada nas crianças sob forma de irritabilidade e agressividade.
Nos adolescentes, a depressão pode se manifestar sob forma de uso de drogas, álcool ou até mesmo como delinqüência. Em muitas famílias, não há permissão para o adolescente expressar alegria e afeto. Os pais não costumam dar boas gargalhadas e demonstrar ternura. Há uma verdadeira economia de afeto e alegria nessas famílias. Por outro lado, há permissão para ofensas, agressividade, criticismo acentuado e pouco espaço para diálogo, compreensão, momentos de intimidade, apoio, incentivo e elogios sinceros.
Na fase adulta, a depressão pode ser mascarada sob forma de excessos alcoólicos, drogas, comida, sexo, jogos, vício em trabalho (workaholics), ou em forma de máscara sorridente e aparente felicidade. Tratei de um paciente que sofria de depressão mascarada cujo apelido em seu trabalho era garoto propaganda, porque vivia sorrindo. Nunca demonstrava tristeza ou mesmo raiva. (vide Caso Clínico que segue: Depressão Mascarada). Há pessoas que, após uma separação, não se permitem entrar em contato com a perda, com a tristeza.
É natural, com a separação, sentirmos tristeza. No entanto, essas pessoas reprimem fortemente essa tristeza, trabalhando feito um louco. Tornam-se um viciado em trabalho. O trabalho passa a ser uma fuga, uma forma de não entrar em contato com a perda.
Mas quando param de trabalhar, entram numa profunda depressão. Aqui explica, em muitos casos, o porquê dessas pessoas adiarem em procurar auxílio de um Psicoterapeuta. Afinal, passar por um processo terapêutico implica em entrar em contato com os seus verdadeiros sentimentos.
Do ponto de vista orgânico, a depressão pode estar mascarada em forma de sintomas psicossomáticos, tais como dores de cabeça constantes, fadiga, dores lombares, náuseas, vômitos, úlcera, colite e alergias diversas. Às vezes, as dores andam de um lado para outro no corpo. Muitos suicídios ou tentativas de suicídio inesperados e aparentemente inexplicáveis são devidos às depressões mascaradas.
Uma pessoa pode ter uma dor de cabeça por anos a fio e certo dia tentar um suicídio.
Em muitos casos, essas pessoas podem ser consideradas hipocondríacas, passando por vários médicos, fazendo exames e não encontrando nada.
Na verdade, todo depressivo é um decepcionado. A vida está lhe devendo. Daí a sua insatisfação. A pessoa depressiva sempre vê o que não têm e não se permite olhar para o que já tem, para suas conquistas. É uma pessoa emburrada, se fecha porque guarda e carregam dentro de si muitos lixos emocionais (mágoas, decepções, ressentimentos, desilusões), os bagaços de seu passado. Muitas mulheres me perguntam o porquê sua vida amorosa está péssima. Respondo que elas carregam uma quantidade enorme de mágoas, desilusões do passado que bloqueiam e impedem de atrair parceiros e situações favoráveis. Por conta disso, só atraem homens violentos, complicados, problemáticos, casados, com problemas financeiros, que não querem saber de nada, etc.
Portanto, é preciso “desatar os nós energéticos” (lixos emocionais) de seu passado, seja desta ou de outras vidas, que estão impedindo que sua vida afetiva flua de forma mais livre. Muitos pacientes depressivos me perguntam também: “Por que sofro tanto”? Eu digo: Você sofre porque está na ilusão, dormindo na ilusão e não quer acordar. Na verdade, o sofrimento tem uma função. É um sinal, um indicador do quanto você resiste em querer mudar. E se você está na teimosia, resiste, quer continuar assim, colherá a desilusão cedo ou tarde. Teimosia é continuar com o que não funciona em sua vida. A dor é, portanto, um sinal de que o que você está fazendo consigo não está sendo legal. E todos nós somos responsáveis pelo nosso próprio bem estar. Para isso, é preciso sair da ilusão de culpar as pessoas, a vida e o destino e reassumir a capacidade de dirigir sua própria vida.
Na verdade, o problema está na cabeça e não na situação. É a forma como cada um percebe os fatos. Observe as pessoas felizes. Elas são felizes porque valorizam os aspectos positivos dos acontecimentos e não dão muita importância aos fatos desagradáveis da vida.

Caso Clínico:

Depressão Mascarada
Homem de 35 anos de idade, solteiro.
Procurou a terapia porque sentia uma certa apatia e dificuldade de concentração no seu trabalho. Seu apelido em seu trabalho era “garoto propaganda”, porque vivia “sorrindo” e nunca demonstrava tristeza ou mesmo raiva.
Na entrevista de avaliação que costumo agendar com os pacientes antes de iniciar o trabalho de regressão, compreendi o porquê de seus colegas de trabalho o apelidarem de “garoto propaganda”. Mesmo relatando acontecimentos dolorosos de sua infância, ele continuava “sorrindo” como se tivesse colocado em seu rosto uma “máscara sorridente”. Essa máscara me fez lembrar o Coringa (personagem vilão que vive rindo no filme americano “Batman”, o homem morcego).
Pude constatar após a regressão que esse “sorriso” constante não era um sorriso genuíno, verdadeiro. Na verdade, ele sofria de Depressão Mascarada. Essa aparente “alegria” estampada em seu rosto, era um disfarce, uma máscara para ocultar uma tristeza profunda. Evidentemente, antes dele passar pela regressão, não tinha consciência que era uma pessoa depressiva. E que sua apatia e a falta de concentração faziam parte de seu quadro depressivo.
Na regressão, se viu quando tinha 5 anos de idade, brigando com o seu irmão de 3 anos. Ele pedia insistentemente ao seu irmão para que devolvesse seu brinquedo preferido, mas este não o atendeu. Num acesso de ira, o paciente pegou o brinquedo da mão dele e o agrediu dando na sua cabeça. A mãe, ao presenciar o ato, o pegou pelo braço bruscamente e lhe disse: “Não pode sentir raiva de seu irmão. Vai lá e o abrace e ponha um sorriso no seu rosto!!!
Vamos!!!” E foi o que ele fez. Deu-lhe um abraço “fraterno”, “sincero”, “carinhoso” e um sorriso “radiante”. Perguntei-lhe o que estava sentindo. Ele me respondeu secamente: “Nada”. A essa altura, seu corpo, rosto e mandíbulas estavam todos contraídos. Seus punhos estavam completamente cerrados. Repeti novamente a pergunta e recebi a mesma resposta. Então, pedi para que ele repetisse várias vezes à palavra “raiva”. No início ele o repetia bem baixo, quase inaudível. Então, eu disse: “Fale mais alto!!! Não estou escutando”. E cada vez que ele repetia a palavra, eu dizia que não estava escutando direito. Até que não agüentando mais, gritou chorando convulsivamente que estava com muita raiva de sua mãe pelo fato dela sempre o obrigar a abraçar o seu irmão quando os dois brigavam. Esperei que ele parasse de chorar e lhe disse carinhosamente: “É natural sentir raiva de sua mãe pelo fato dela lhe obrigar a sorrir e abraçar o seu irmão, quando na verdade estava sentindo muita raiva dele. Com isso, ela estava lhe ensinando a sentir uma falsa alegria (sorriso) e um falso afeto (abraço). Portanto, você não podia sentir e nem tampouco expressar raiva”. Ao pedir para que ele prosseguisse na cena, percebeu também que não podia sentir tristeza. Quando seu cachorro faleceu, sentiu uma profunda tristeza. Sua mãe lhe disse: “Pare de chorar!! Que coisa feia!! Eu compro outro cachorro. Vamos, bote um sorriso em seu rosto e enxugue essas lágrimas!!”
Dentro do processo educacional, muitos pais não ensinam seus filhos a diferenciar o ato de sentir e agir, ou seja, que existe uma diferença entre sentimento e ação. No caso desse paciente, sua mãe, ao invés de obrigá-lo a dar um abraço no seu irmão, poderia lhe ter dito: “Eu vejo que você está com raiva de seu irmão porque ele pegou o seu brinquedo preferido, mas você não precisava agredi-lo, machucando-o”. Com essa colocação, sua mãe lhe ensinaria a diferença entre sentimento e ação, permitindo um, mas não o outro. Ele iria aprender que não é errado sentir raiva, mas que agredir, machucando alguém, não é correto, pois existem outras formas de conseguir o que quer e de expressar seus verdadeiros sentimentos. Portanto, dentro desse processo educacional opressivo, aprendemos que existem categorias de aspectos ou emoções considerados como “perigosos”, tais como: sexo, ciúme, inveja, medo, tristeza. Aprendemos que é “feio” sentir tesão sexual, inveja, ciúme e raiva dos outros. E, com essas proibições, acabamos suprimindo, recalcando essas emoções autênticas, inerentes ao seres humanos.
Expliquei ao paciente que a raiva, quando bem administrada, é altamente saudável. Por outro lado, quando ela fica “parada” no estômago, por exemplo, gera as chamadas doenças psicossomáticas, tais como: úlcera, gastrite ou mesmo câncer. Neste mundo globalizado e competitivo, se você não usar a energia da agressividade, coragem, ousadia em seu trabalho e em sua vida, não sobrevive. Muitas vezes, a falta de interesse, de vontade, de motivação, são sintomas "master" da insegurança. São pessoas medrosas, inseguras que aprenderam a recalcar a energia da agressividade. Tornam-se pessoas passivas, sem nenhuma iniciativa, chegando a sentir apatia e desinteresse pela vida. Era o caso desse paciente.
Após 8 sessões de regressão, pude constatar significativas mudanças em seu comportamento. Percebi que ele estava mais solto, espontâneo, mais verdadeiro, mais firme nas suas atitudes, dizia a palavra “não” quando não estava a fim de fazer algo, sem culpa ou arrependimento. Antes, cultivava sentimento de culpa ao contrariar alguém e acabava pedindo desculpas, mesmo estando certo. Aprendeu a sentir e expressar raiva e tristeza sem utilizar os seus disfarces antigos de falsa alegria e falso afeto, demonstrando-as verdadeiramente e a apatia e falta de concentração foram substituídas por entusiasmo e verdadeira alegria. Aquela “máscara sorridente” em seu rosto desaparecera.

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